O que é melhor, cabo ou Wi-Fi?

 Muita gente se pergunta se é melhor usar cabos, ou partir para o uso de Wi-Fi. Outros nem se dão ao trabalho: assim que aparece a opção do Wi-Fi, saem arrancando todos os cabos e mergulhando de cabeça no mundo sem-fio.

Ao contrário do que muitos pensam, Wi-Fi não foi criado para substituir nem eliminar o uso de cabos, e sim para oferecer conectividade a equipamentos em que o uso dos cabos não é vantajoso. Assim, o uso consciente e coordenado das duas opções oferece resultados melhores do que os dois extremos.

Vantagens e Desvantagens do Wi-Fi

As principais vantagens do Wi-Fi são a mobilidade e a facilidade de instalação. Equipamentos voltados ao uso pessoal, como smartphones, tablets e notebooks são o principal exemplo de candidatos ao uso exclusivo de conexões wireless. Isso também se traduz em custo final, pois é fácil encontrar roteadores wireless, access points e adaptadores (internos e externos), a preços bem razoáveis, e com um desempenho bastante aceitável (traduzindo-se em um ótimo fator CxB).

Outra grande vantagem do uso de Wi-Fi é derivada da própria característica sem fio: como não há fios ou cabos, não há necessidade de criar infraestrutura para a passagem destes, como canaletas, conduítes ou dutos subterrâneos/embutidos. Também há a vantagem estética de não haver cabos jogados pelos cantos, ou atravessando o ambiente, como varais de roupa suja.

Falava antes do uso interno, em ambiente doméstico ou em pequenos escritórios; há também situações de uso externo em que o Wi-Fi se mostra bastante vantajoso, como quando há necessidade de interligação de casas, apartamentos, lojas ou escritórios próximos. Nesses casos, a passagem de um cabo nas vias públicas é, via de regra, totalmente fora de questão.

No entanto, nem tudo são flores: se há vantagens, também há desvantagens. A primeira e principal delas é o alcance. A transmissão Wireless é feita por rádio, o que significa que ela tem um determinado alcance, que é limitado pelo tipo de antena usado e pela potência dos transmissores (sim, transmissores, no plural: lembre-se de que para ter comunicação bidirecional, o seu equipamento precisa receber a transmissão, mas também precisa transmitir). Equipamentos domésticos normalmente têm alcance de algumas poucas dezenas de metros em ambiente aberto, podendo cair drasticamente em ambientes com paredes ou outros obstáculos.

Outra desvantagem forte vem do fato de que a transmissão do Wi-Fi é feita no ambiente aberto, sem qualquer proteção contra interferências de EMI/RFI. Os padrões de rede Wi-Fi levam esse assunto a sério, e tomam várias providências para controlar e compensar as interferências externas, mas ainda assim sofrem com elas. As principais fontes de interferência são telefones sem fio, motores elétricos pesados, fornos de micro-ondas, e outras redes sem fio próximas.

 Uma das técnicas usadas para lidar com a interferência é a redução da taxa de transferência. Assim, quando sua conexão 802.11n marca que você está conectado a 72Mbps, não significa que ela está transmitindo em 72Mbps, mas sim em até 72Mbps. E nada impede que daqui a alguns segundos esteja marcando 54, 36, 18Mbps ou menos. Tudo depende do nível de qualidade registrado pelo sinal, no momento, e da interferência que ele esteja sofrendo.

Aliás, a disseminação das redes sem fio, por si só, gera outra desvantagem: o congestionamento do espectro de frequências. Em locais com grande concentração de usuários, pode ser observada uma queda considerável de desempenho, principalmente ao se usar padrões antigos, como 802.11b e 802.11g.

Por fim, outra desvantagem importante diz respeito à privacidade dos dados. O sinal de rádio utilizado pelos meios sem fio é transmitido, normalmente, em modo de difusão, o que significa que ele alcança não só seu equipamento, mas também todos os outros equipamentos no alcance da antena transmissora. Assim, qualquer informação transmitida fica passível de ser captada por esses equipamentos, e em muitos casos, recuperada. Para evitar isso, a técnica mais usada é a de criptografar os dados transmitidos, ou a própria transmissão; no entanto, ainda encontramos muitas redes públicas baseadas em transmissões abertas, o que expõe diretamente os dados trafegando nelas.

Vantagens e Desvantagens da rede Cabeada

As redes baseadas em cabos têm suas vantagens e desvantagens praticamente opostas às redes sem fio. Desvantagens de pouca mobilidade, necessidade de infraestrutura, estética. Vantagens de resistência a interferências, privacidade e menor suscetibilidade a congestionamento. Vamos ver as duas últimas com mais atenção.

Na rede sem fio, a característica de transmissão por difusão faz com que qualquer pessoa no alcance da antena possa receber (e possivelmente decodificar) as mensagens transmitidas. No caso de transmissões por cabos, isso não ocorre, pois os sinais são transmitidos por sinais elétricos dentro dos cabos, e não é possível ler esses sinais sem ter acesso próximo ao cabo, se não direto. Isso acaba tendo também um certo peso sobre o desempenho da solução, pois sem a necessidade de criptografia, o desempenho geral da transmissão na rede cabeada se torna um pouco melhor.

Também na rede sem fio, temos a característica da perda de banda de transmissão, conforme piora o sinal (seja por interferência, seja por distância). As redes cabeadas, por sua vez, transmitem sempre em taxas fixas, definidas pelo tipo de interface e de cabo em uso. Uma conexão gigabitEthernet transmitirá sempre em 1000Mbps, até o fim dos tempos (ou a desconexão do cabo). A quantidade de usuários no ambiente também não interfere, para as redes ethernet modernas; afinal, cada cabo liga exatamente um computador à rede, enquanto vários equipamentos ficam ligados na mesma rede Wi-Fi.

O alcance de transmissão também pode se tornar uma vantagem para a rede cabeada: enquanto dificilmente você vai conseguir fazer uma transmissão Wi-Fi a mais de 10 ou 20m sem o uso de repetidores, um cabo ethernet pode ter até 100m de comprimento, e se for montado corretamente, transmitirá à mesma taxa que um cabo de 1 ou 2m. Ou, se não for montado corretamente, simplesmente não transmitirá, e você saberá que precisa consertar alguma coisa.

Ainda sobre desempenho, até algum tempo atrás, a conexão cabeada também garantia maiores taxas de transmissão. O padrão 802.11n oferecia transmissões de até 300Mbps (mais tarde, 600 ou 750Mbps), que mal chegavam a arranhar os 1000Mbps da rede gigabit. Esse domínio foi abalado com o surgimento do padrão 802.11ac, oferecendo até 1200Mbps, e definitivamente desafiado pelo novo padrão 802.11ax, que promete taxas de até ~7Gbps, tornando-se páreo até para as conexões cabeadas de 10Gbps. No entanto, tanto os roteadores/access points como os adaptadores Wi-Fi compatíveis com esses padrões ainda são muito caros, anulando a vantagem de baixo custo da instalação da rede Wi-Fi.

E não contem pra ninguém... mas as taxas máximas de transferência prometidas pelos padrões Wi-Fi são valores teóricos, que só ocorrem em condições ideais de interferência, distância, e quantidade de usuários.

Escolha sua tecnologia (ou: Percorrendo o Caminho do Meio)

A filosofia oriental preconiza que a sabedoria está em não pender para os extremos, e procurar percorrer sempre o Caminho do Meio. Na hora de escolher entre cabeado e Wi-Fi, escolher com sabedoria ajuda a obter o melhor resultado possível.

Algumas aplicações e equipamentos ajustam-se bem à rede sem fio. Dispositivos móveis como smartphones, tablets e notebooks são como pássaros, só podem voar se não estiverem amarrados ao chão. Navegação normal, acessar redes sociais, ouvir músicas, ver filmes, isso pode ser feito em redes Wi-Fi sem grandes dificuldades.

Algumas outras aplicações, no entanto, precisam de estabilidade na rede, coisa que o Wi-Fi não pode garantir. Por exemplo, jogos de tiro em primeira pessoa. Servidores de arquivos ou de mídia também não se dão bem com Wi-Fi: eles geram muito tráfego, congestionando a rede.

Existe um tipo de equipamento, no entanto, que está bem no limite entre os dois mundos: as SmartTVs. A maioria delas permite ligação tanto Wi-Fi como cabeada. O tipo de aplicação que elas executam, principalmente vídeos, não chega a ser um tráfego pesado que congestione a rede Wi-Fi. Porém, é comum que elas não fiquem no mesmo ambiente que o roteador wireless (ou access point), o que resulta em uma conexão Wi-Fi lenta ou instável. Isso acaba obrigando o usuário a recorrer a repetidores, que limitam o desempenho da rede como um todo (e também geram custo adicional).

Minha sugestão, caso você tenha a possibilidade, é usar cabos ethernet para ligar as SmartTVs. Isso garante conexão estável, mesmo nos cantos mais distantes da casa/apartamento, e ainda deixa o sinal Wi-Fi mais livre pra navegar.

Chega de palpites por hoje. Até a próxima.

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